SIMONE DE BEAUVOIR E A EMANCIPAÇÃO DA MULHER
Em 1857, a sociedade francesa escandalizou-se com a publicação de uma novela dramática de Gustave Flaubert. Tratava-se de um relato ficcional, escrito com crueza e realismo, sobre a esposa de um médico rural, Ema Bovary, que depois de ter praticado adultério se suicidara. Livro que serviu de velada condenação ao comportamento feminino e das forças que se combinavam por desgraçar a mulher. Quase um século depois, em 1949, a mesma sociedade foi novamente abalada, desta vez por um contundente ensaio publicado por uma das mais famosas escritoras do país: Simone de Beauvoir. O título era O Segundo Sexo, livro que desde então correu o mundo e contribuiu definitivamente para a emancipação da mulher contemporânea.
Uma crônica de lutas
Simone de Beauvoir (1908-1986)
Simone de Beauvoir, todavia, não deve ser entendia como um fenômeno exclusivo da sua época, do século XX, o centênio que mais estendeu cidadania e direitos às mulheres em geral. Ao contrário, era herdeira de uma tradição de engajamento nas causas femininas que se originava dos tempos da Revolução Francesa de 1789, quando mulheres como Theroigine de Méricourt, fundara o clube misto dos Amigos da Lei, em 1790, e Olympe de Gouges, redigira a Déclaration des droits de la femme et de la citoyenne, de 1791, documento histórico primeiro a reclamar abertamente os direitos iguais para homens e mulheres.
Exigência que foi ainda mais reforçada pela exuberante Flora Tristan, militante socialista, autora de Peregrinações de uma paria, de 1837, e do União Operária, de 1843, defensora da igualdade de operários e operárias, luta que teve continuidade na formação dos Batalhões Femininos da República que saíram às ruas da França na defesa do cumprimento da Lei Ferry, de 1881, que determinava ao acesso das mulheres ao ensino público.
Mesmo com esse ativismo militante, as mulheres francesas chegaram tardiamente à cidadania, apenas consagrada na constituição de 1946. Muito depois das americanas, inglesas, alemãs e russas que alcançaram o direito de voto bem antes delas, ao redor de 1918.
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